Aceitando quem você é: Transição Capilar

   Durante esses anos de  tentativas de transição capilar, percebi que eu nunca iria conseguir concluí-la se eu não aceitasse as minhas raízes, o volume do meu cabelo, a curva dos meus cachos e principalmente, a pessoa que eu sou. A transição para mim está sendo um grande processo de redescobrir quem eu sou, de poder libertar minhas vontades, meus anseios. Se a gente não confiar no nosso poder, quem irá?



Sobre o preconceito ao crespo e as raízes afro. 

  Minha família materna é negra, com lindos cabelos crespos. Já a família do meu pai é branca, e meu pai tem um cabelo meio ondulado. Unindo esses dois genes, nasceu eu, com o cabelo todo aneladinho, pretinho, assim como o da minha mãe. 







  Embora cada dia mais o crespo venha sendo aceitado na nossa sociedade, existe ainda um longo caminho para aceitação completa, e eu desejo ainda estar viva para assistir isso. Enquanto espero isso, posso ver as opiniões que se dividiram entre as pessoas quanto a minha decisão de voltar á minhas raízes. 
  Hoje eu realmente não dou ouvidos á comentários que ameaçam abalar minha autoestima, pois sei que é um pensamento praticamente enraizado na sociedade brasileira (mesmo sendo um país que adora gritar pros sete ventos o quanto ele é diversificado e aceita as diferenças), que ainda enxerga o o crespo de forma deteriorada, o que pressiona pessoas como um dia eu fui pressionada, a se adequarem á um modelo, não apenas de cabelo, mas de estilo e personalidade que a maioria espera e aprova. 
  Embora tenha pele clara, ainda não tenho um conhecimento profundo sobre os diversos colorismos, e procuro cada dia mais me aprofundar sobre o assunto para abraçar minhas origens afro, e buscar ser fora a pessoa que sou por dentro. 

Alisamento na infância e se adequar aos padrões. 

  Iniciei os processos químicos no cabelo com dez anos de idade, aos pouquinhos, primeiro na franja, depois na raiz pra "abaixar o volume", e depois definitivamente adeus aos cachos. É importante lembrar que a maioria dos cabelos passa por mudanças na puberdade, e comigo não foi diferente, meu cabelo de criança tinha fios finos e definidos, mas ao entrar na fase de mudança hormonal, o fio mudou totalmente de forma. Vale lembrar também que produtos pra cabelos crespos eram muito escassos durante minha infância, hoje em dia existem linhas inteiras de tratamento pra deixar nosso cabelo como a gente quer, o que ajuda muito.
  Antes não tinha, então eu via os cabelos lisos e sedosos das propagandas, das minhas primas e tias que também usavam química, e decidi que queria aquilo pra mim. Não vou ser hipócrita e dizer que não curti o liso, eu realmente me sentia muito bem, eu gostava de mim daquele jeito. Durante um tempo. 




Autoconhecimento: mudança de dentro pra fora.

  Quando eu tinha catorze anos fiz minha última química no cabelo, em janeiro. Decidi que não iria mais fazer nada porque queria meu cabelo cacheado de volta, mas não foi bem assim. Nessa época eu queria meus cachos mas não os aceitava. É um pouco complicado de entender, mas quando o cabelo novo está crescendo e existe aquelas duas texturas, eu pensava que nunca iria ficar legal com o cabelo daquele jeito, eu era insegura demais pra achar que alguém iria gostar de mim com o crespo, e mesmo sem fazer nenhuma química, eu ia esticando meu cabelo com chapa e escova toda semana. 





  Em 2015 tentei assumir meu cabelo na transição e não obtive sucesso. Eu estava magoada com situações na minha vida, e não me sentia bem comigo. Então uma dica: para que você se ame por fora, é preciso ter amor por dentro. Eu me sentia horrível e não estava feliz com o cabelo daquele jeito, e é muito difícil você passar por esse período da transição com um emocional abalado, é preciso ter força e felicidade, amor próprio e se embalar nas boas coisas, para que o cabelo não seja nada mais que apenas cabelo. 
  Mas nesse período eu não consegui de novo, então continuei na chapa e no secador. Depois de mais dois anos, recuperei meu emocional, estava feliz e pronta. Tanto que eu não suportava mais andar com o cabelo com cheiro de queimado, de passar três horas tentando fazer ele ficar liso se no final eu não estava gostando do resultado. E principalmente, eu havia mudado por dentro. Eu estava feliz, e queria externalizar isso, e passei, sem medo, a tesoura no cabelo.








  Ainda tenho umas partes lisas, mas sei conviver com elas. Algumas youtubers crespas me ajudaram nesse caminho, e eu sou imensamente grata pelo trabalho delas. Posso dizer que hoje eu sou a Sarah de verdade, sem amarras e vivendo meu estilo. é uma sensação incrível e desejo que todos que tenham uma história pelo menos parecida um tiquinho com a minha, se sinta desafiado a descobrir a si mesmo. 




Alguns canais de crespas:

Atenciosamente, 
S.


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